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De acordo com Miro Teixeira, do Partido Democrático Trabalhista (PDT) e ex-deputado estadual por 11 mandatos, a retomada do símbolo do amarelo já está acontecendo no Brasil. Ao longo da última década, a cor - presente na bandeira do país - foi abraçada pela extrema direita e teve destaque nas multidões que invadiram e destruíram a Praça dos Três Poderes para pedir uma intervenção militar. Em contraponto, em 1984 a mesma esteve presente nas Diretas Já, movimento que lutou pelo fim da Ditadura Civil-Militar que comemorará seu aniversário de 40 anos em 2024. Para o jornalista e escritor Oscar Pilagallo, repórter especial da Folha de S. Paulo nas Diretas que escreveu múltiplos livros sobre a Ditadura, essa transformação de significado começou em 2013.
As Diretas Já foram marcadas por cartazes, multidões e declarações que abraçavam o amarelo, o tornando um símbolo. Segundo Pilagallo, depois do movimento, o amarelo só esteve relacionado à seleção brasileira de futebol. Até que, nos protestos em torno do mandato da ex-presidente Dilma Rousseff em 2013, o PT e seus partidos simpatizantes adotaram bandeiras vermelhas, cor que se manteve presente nas eleições presidenciais posteriores. Dessa forma, a direita nacionalista, que depois viria a apoiar o Bolsonaro, utilizou bandeiras amarelas ou bandeiras do Brasil em oposição. O preto foi adotado por manifestantes anticapitalistas que depredavam patrimônio, os black blocs, importados da Alemanha, e agravou ainda mais a divisão de paletas no espectro político nacional.
— A esquerda acabou cedendo a cor para a direita. Eles deixaram que o amarelo, que tinha sido usurpado, ficasse com ela de um modo geral. A esquerda deixou de usar a cor como havia feito nos anos 80. - concluiu.
O jornalista acredita que a aplicação do amarelo como um símbolo bolsonarista surgiu ali. Entretanto, no governo Lula, o campo progressista vem trajando a cor em uma tentativa de resgatá-la. Na visão de Miro Teixeira, tomar o símbolo nacional para si não é só uma tentativa em desenvolvimento, mas um dever do cidadão. Para o político, essa mudança já está ocorrendo e a Copa do Mundo é um exemplo onde bolsonaristas e anti-bolsonaristas a vestiram sem distinção. Ainda assim, Pilagallo acredita que a eleição municipal do ano que vem será acirrada e decisiva para esta disputa.
— A direita vai continuar enrolada na bandeira do Brasil, tal como foi o oito de Janeiro. E aí vamos ver como o outro campo se comporta diante disso, se vão deixar eles dominarem essas cores e criarem sua própria narrativa ou se vão brigar pela história da cor como algo identificado com a defesa da democracia. Isso é a ver, 2024 vai começar a dar essa resposta.
Miro não considera essa a primeira vez em que estes símbolos nacionais são ressignificados, a respeito da Ditadura Civil-Militar, ele recordou que a oposição era pintada como comunista, vermelho, e o brasileiro usava verde e amarelo. Com as Diretas, as cores foram tomadas de volta. Em sua opinião, a música "Camisa Amarela" de Chico Buarque foi uma boa maneira de comunicar o povo o caminho que deveria ser seguido.
A ideia inicialmente surgiu do intelectual brasileiro Caio Graco, editor de livros do Brasiliense, que viu na televisão manifestações pela democracia nas Filipinas e gostou da imagem de milhares de pessoas na rua com faixas e flores amarelas, então ele sugeriu a cor. Ao mesmo tempo, ela também aparecia nas pranchetas dos publicitários. Uma agência de Curitiba que foi contratada pelo PMDB, principal partido de oposição do Regime Militar, criou o slogan e optou pela paleta.
Após essa definição, a importância política do amarelo mudou. Em 25 de janeiro de 1984, o grupo Manifesto 25 de janeiro fez uma declaração, publicada na íntegra na Folha de São Paulo em 15 de fevereiro daquele ano e conhecida como Manifesto dos Artistas. Pilagallo contou que o nome de seu último livro, "O girassol que nos tinge", teve este manisfesto como origem, evocando "uma das flores sem medo". A cor apresenta um significado poético e metafórico e não necessariamente nacionalista, como ocorreria no futuro. Um trecho do manifesto diz:
"O amarelo é o elo que nos une, todos juntos, nesta grande viagem da cidadania. Queremos usar o amarelo como bem nos aprouver. O amarelo símbolo, o amarelo da gema, o amarelo das flores sem medo, o amarelo da oriental sabedoria, o girassol amarelo que nos guia, tinge e alimenta.”
A parte imagética das manifestações marcou Paulo Knauss, historiador da Universidade Federal Fluminense que participou das manifestações e acompanhou sua cobertura. Em especial, ele se lembra do dia da eleição do Tancredo e da multidão em Brasília.
— Pela primeira vez a gente vê a participação da massa na política. Na parada de 7 de setembro, aquela bandeira que cobria a população. A gente nunca tinha visto, na história do Brasil, a promoção da multidão de modo tão intenso.
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