Surfe foi proibido em regiões do país e praticantes sofreram nas mãos dos soldados
Durante a década de 1960, os surfistas eram vistos como desocupados e o esporte marginalizado. Sofreu restrições durante o regime, o que fez com que os praticantes sofressem repressão da polícia. Em Santos, era comum que as pranchas fossem apreendidas e quebradas. No Rio de Janeiro, alguns foram presos. Lipe Dylong conta que todos que surfavam sofriam. “Até tiro na água já deram. Caiu fora do horário, era dura dos salva-vidas e dos militares. Os soldados iam pela pedra e botavam a turma para sair.”
A prática era proibida entre as 9 horas da manhã e 2 horas da tarde. Rico de Souza foi preso por confrontar a polícia e surfar em horário indeterminado. Os praticantes buscavam saídas para a fiscalização. Nesse cenário, surge o píer de Ipanema. Construído em 1972, levava um emissário que despejava esgoto nas águas. Foi rapidamente ocupado pelos surfistas, por conta da formação de ondas.
O fundo do mar se alterou devido à construção e atraiu o grupo formado por Lipe e outros surfistas. Depois chegaram artistas como Gal Costa, Caetano Veloso e Evandro Mesquita para ocupar a região. A areia realocada formou dunas que dificultavam a visão de quem estava fora e criou um ambiente de libertação. “Nós habitamos primeiro por causa das ondas, como ali tinham as dunas e da rua não se via , virou um espaço de ‘limpeza". Um amigo trazia o outro. Começaram a vir os artistas, os músicos, os doidões, pronto, circo montado.”, relata Lipe. A experiência durou apenas três anos. O píer foi desmontado em 1975.
Ele confirma que havia pouca luta política por parte dos surfistas, apesar de lidarem com as consequências de um Estado que oprimia. “Queriam passar despercebidos para não ganhar mais dura. Imagina, cabeludos, com pranchas em cima do carro, era dura certa. Nossa classe sempre passou ao largo dos movimentos, bebíamos do paz e amor. Gostávamos de curtir o surf, o sol e a natureza. ”, completa Lipe.
A prefeitura de Santos criou restrições de local e horário a partir de 1967. No documentário "Pranchas Quebradas", de Marcio Andrade, surfistas da região falam sobre as experiências no período. O Estado limitava a prática do esporte com a justificativa de que as pranchas eram um perigo para os banhistas. O surfe era recheado de tensão e, frequentemente, os militares expulsavam praticantes da água, apreendiam suas pranchas e as devolviam sucateadas e cheias de furos.
A saída para muitos era buscar praias sem fiscalização, caso de Guarujá, Praia Branca e Maresias. Os militares costumavam parar e revistar os surfistas no trajeto. O visual de cabelos longos era confundido com o de guerrilheiros, mas a única luta era pelo direito de se divertir. “Primeiro era a diversão, mas quando começaram a pegar no pé e falar que não podia, começaram os questionamentos: 'Como não pode?”, diz Marcio. As restrições duraram até 1974.
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